Bem-vindo -
28/02/2021

Cidades com confirmação de variante relatam maior agressividade do vírus

Salto expressivo de casos de Covid-19, maior número de jovens desenvolvendo a forma grave da doença, pacientes permanecendo por mais tempo internados. Estas são algumas mudanças notadas por autoridades de saúde de municípios do Interior do Estado, como Jaú e Araraquara, que já tiveram confirmação de circulação da variante brasileira do novo coronavírus, conhecida como P1.

Embora ainda não haja comprovação científica de que a nova cepa seja responsável por este cenário inédito em meio à segunda onda da pandemia, estes são indícios que precisam ser melhor compreendidos e que, em um cenário de escassez de vacinas, trazem preocupação para os municípios paulistas, incluindo Bauru. A cidade, aliás, aguarda, para os próximos dez dias a divulgação do resultado das amostras enviadas ao Instituto Adolfo Lutz para verificação de possível presença desta variante.

O secretário municipal de Saúde, Orlando Costa Dias, já antecipou que acredita que a nova linhagem já esteja circulando em Bauru, mas ainda não há repercussões tão graves como as verificadas em outras cidades. Para se ter ideia, Araraquara - que permaneceu em lockdown durante a última semana - registrou, apenas em fevereiro, número de mortes provocadas pela doença três vezes maior que em janeiro.

Coordenadora extraordinária de ações de combate à Covid-19 da Secretaria de Saúde de Araraquara, a enfermeira sanitarista da Vigilância em Saúde Fabiana Araújo explica que, nas unidades de saúde, incluindo hospitais, também aumentou o número de pacientes com menos de 60 anos que evoluem de forma mais grave e que vão a óbito.

"A maioria tem comorbidade, geralmente obesidade de graus menores ou doenças controladas como diabetes tipo 2, algo muito diferente do que acontecia até o ano passado, em que a maioria tinha comorbidade em estágios mais avançados", pontua.

'MAIS DIFÍCIL'

Em entrevista recente concedida ao JC, a gerente administrativa da Santa Casa de Jaú, Scila Carretero, comentou que a doença começou a se manifestar de forma diversa a partir de 2021, assim como ocorreu em Araraquara.

"O volume de pacientes internados com uma forma agressiva da doença estava muito grande desde janeiro. O corpo clínico e a direção do hospital perceberam que não estávamos tratando com a mesma doença, com o mesmo vírus do ano passado", relatou. A reportagem tentou, mas não conseguiu, durante três dias, agendar entrevista com um porta-voz da secretaria de Saúde da cidade.

Segundo Fabiana Araújo, os profissionais de saúde também notaram que um contingente de pacientes passou a precisar de internação após o 13.º dia de início dos sintomas, em razão de comprometimento pulmonar - o que não ocorria antes. "Além disso, o tempo de ocupação dos leitos aumentou. No ano passado, em média, um leito de UTI ficava ocupado por 14 dias e sabemos que este período é maior agora. Está cada vez mais difícil tirar o paciente do oxigênio, devido a comprometimento pulmonar", completa.

Há preocupação sobre a possibilidade de a variante brasileira do novo coronavírus ser mais agressiva, mais transmissível e com risco de não ser coberta pelas vacinas de que o País dispõe hoje. Porém, conforme alerta o médico infectologista do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo e professor da Unesp de Botucatu, Carlos Magno Fortaleza, esta relação não está cientificamente demonstrada.

"Para termos estes dados clínicos e epidemiológicos, precisaríamos saber que paciente tem a variante e quem não tem, para comparar. E isso é algo que ainda não temos condições de saber em grande escala. Então, estamos no campo da suposição", frisa ele, que também é presidente da Sociedade Paulista de Infectologia.

Fortaleza diz, por exemplo, que o aumento de internações de pacientes jovens pode estar vinculado ao aumento de internações da população como um todo. Em relação à transmissibilidade, ele aponta que a variante britânica é a única comprovadamente mais transmissível, conforme estudos demonstraram.

"E algumas similaridades morfológicas entre a variante britânica e a amazônica levam à suposição de que esta última também pode ser mais transmissível", observa. Ele cogita, ainda, que as internações podem estar mais prolongadas porque, agora, as equipes de saúde conhecem melhor as estratégias mais adequadas para tratar pacientes, aumentando, assim, a sobrevida deles.

"Pode ser que pacientes que, anteriormente, morreriam, agora, estão sendo melhor cuidados. O prolongamento da internação não é determinado somente por maior gravidade da doença, mas também por menor mortalidade. Porém, como o número de casos aumentou, em números absolutos, as mortes também são altas no País", alega.

O infectologista pontua, ainda, que não há certezas sobre a possibilidade de as vacinas não protegerem as pessoas contra estas mutações do coronavírus. Até o momento, o que se sabe é que as pessoas imunizadas com a vacina da AstraZeneca não produzem anticorpos que neutralizam a variante sul-africana.

"Mais uma vez, como a variante de Manaus tem algumas semelhanças com a sul-africana, isso cria um receio de interferência na imunidade conferida pela vacina da AstraZeneca. Os testes relacionados à CoronaVac já estão sendo finalizados, mas há razões teóricas para acreditar que ela seja menos afetada porque é produzida com o vírus inteiro, inativado, e não um fragmento", esclarece.



Fonte: JC Net
Compartilhe!
Deixe seu comentário

Veja
Também

Mais Informa
© Copyright 2019 Mais informa. Informação mais precisa. Todos os direitos reservados.