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31/01/2021

Decifrar o cérebro motiva a vida dele

Descendente de italianos, ele nasceu na área rural de Borborema (88 quilômetros de Bauru), em 1961, primogênito de uma família, pequena e humilde, que morava em uma fazenda de café. Desde esses tempos, a vontade de se tornar médico já dava os primeiros sinais nas brincadeiras do menino que, anos à frente, viria a ser um neurocirurgião apaixonado pela profissão e pela família.

Com quase 30 anos de carreira, Pedro Geraldo Hortense já realizou - 'chutando por baixo' - mais de sete mil cirurgias relacionadas a um dos mais enigmáticos e delicados órgãos do corpo humano: o cérebro. Para ele, além do dia a dia nas salas de operação, que o revigora e o motiva, o fascínio pelo sistema nervoso central e periférico vem também das possibilidades e novidades tecnológicas que oxigenam a área na qual se especializou.

Novidades essas que possibilitaram, inclusive, que ele fosse o primeiro médico a operar um paciente diagnosticado com a Doença de Parkinson, em Bauru, no ano de 2005. Ele conta também que, a partir daí, após inovações na área, foi ainda pioneiro na cidade na execução da técnica Deep Brain Stimulation (DBS) - mais conhecida como Estimulação Cerebral Profunda - para realização das cirurgias de transtornos neurológicos usando um marca-passo cerebral.

Para manter o mapa do cérebro humano bem atualizado na própria mente, o médico aposta em corridas matinais, exercícios físicos, horas cozinhando e muitos livros de cabeceira, além de contar com o apoio da esposa Marilene e do filho Victor Hugo, também médicos. Confira a entrevista:

Jornal da Cidade - Como e quando chegou em Bauru?

Pedro Hortense - Nasci em uma fazenda de café, em Borborema. Na ocasião, não tinha nem hospital por lá. Meus avós vieram da Itália, morávamos todos próximos. Fiquei nessa fazenda até os 5 anos e depois fomos para a cidade. Estudei a vida inteira em uma escola pública até completar o segundo colegial, quando mudei para Bauru para fazer o terceiro e cursinho no Objetivo. Morava em uma pensão, na rua Cussy Júnior, e depois passei na faculdade.

JC - Onde fez medicina?

Pedro - Lembro que foi difícil passar, sempre foi bem concorrido. Mas entrei na Universidade São Francisco de Assis de Bragança Paulista. Lá, comecei a namorar minha esposa, colega de turma, no baile de formatura.

JC - O que lhe trouxe de volta?

Pedro - Antes, fui pra Belo Horizonte (MG) fazer neurologia na Universidade Federal, que é pré-requisito para fazer neurocirurgia na Fundação Hospitalar do Estado. No terceiro ano de residência, casei com a Marilene e no quarto ano, tivemos nosso primeiro e único filho, Victor Hugo. Em 1992, resolvi voltar para Bauru pra trabalhar no Hospital da Beneficência Portuguesa. Eu tinha recém-chegado e minha primeira cirurgia já foi um aneurisma.

JC - Como surgiu vontade de fazer medicina?

Pedro - É como se viesse desde a gestação, nasci com a vontade que tenho até hoje. Minha mãe conta que eu juntava vidros e brincava como se fossem medicamentos. Fui o primeiro médico da minha família e, hoje, já vieram outros.

JC - E o que o levou para a neurologia?

Pedro - Também precoce, no primeiro ano de medicina, na neuroanatomia, o cérebro me encantou. No terceiro ano, meu professor Tadeu Parisi era como um pai para mim e sempre me chamava para entrar em cirurgias. Lá no quinto ano, arrumei confusão, porque tinha que seguir os horários e ir para a pediatria, mas enforcava as aulas para ir paras cirurgias. Eu gosto de estar com o paciente, na sala de cirurgia, mexer no cérebro, na coluna, sou mais da prática.

JC - O que mais o encanta na sua profissão?

Pedro - Fiz 29 anos de carreira e o que me encanta até hoje é o novo. Esse aprendizado contínuo, não só em questão de técnicas cirúrgicas, mas de funcionamento, da química cerebral e fisiologia, é o que mantem minha energia. Em 2005, por exemplo, eu fui o primeiro médico a operar um paciente de Parkinson, em Bauru. Depois disso, com as inovações, fui o primeiro a trabalhar em Bauru com uma técnica que aprendi ainda na residência, a Deep Brain Stimulation (DBS), que é utilizada até hoje. Agora, estão estudando a DBS até para outras áreas como a zona da saciedade, para tratar a obesidade. Entende o encanto?

JC - Como é ter a responsabilidade em lidar com um órgão tão delicado?

Pedro - Você só consegue abrir um crânio quando se tem um domínio muito grande sobre essa anatomia, tem que saber milimetricamente onde tudo está. É como ter um mapa do cérebro na sua mente, seu GPS tem que estar bem configurado.

JC - Como fica o tempo para as outras atividades?

Pedro - Digo que 70% da minha vida é meu trabalho, mas não faço só isso. Tenho uma base muito forte na minha família. Minha esposa é médica ginecologista e meu filho também está estudando medicina. Eles me inspiram. Além disso, acordo todos os dias às 5h30, saio para correr, depois faço uma hora de atividades físicas e, só assim, começo meu dia.

JC - Quando não está vivendo medicina, o que está fazendo?

Pedro - Gosto muito de cuidar da minha horta, deste contato com a terra. Amo estar com meus pais Maria e Idevaldo e a minha irmã Sandra - trouxe todos para cá. Leio bastante, cozinho sozinho ou com o meu filho, gosto muito de viajar e aproveito para ir a concertos de música erudita, jazz, óperas, que eu e minha esposa adoramos.

JC - Para o futuro, o que tem em mente?

Pedro - Não parar (risos). Não consigo me ver sem trabalhar, se tirarem isso de mim, não sei como me adaptaria. O meu futuro é continuar oferecendo o que eu tenho de melhor para os meus pacientes.



Fonte: JC Net
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