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31/01/2021

Do Afeganistão para a Sem Limites

Um provérbio afegão diz que "o mundo é a pousada do viajante". Talvez seja por isso que Hamed Babak, 37 anos, conseguiu se adaptar a uma nova cultura e sociedade, bem distante de seu país de origem. Nascido em Cabul, capital do Afeganistão, ele está no Brasil desde 2014 e mora há mais de dois anos em Bauru. Em nome do amor viajou tantos quilômetros e passou a viver na Cidade Sem Limites.

No Oriente Médio, Hamed era empregado de uma empresa de segurança, onde teve contato com soldados do exército dos Estados Unidos. Foi quando conheceu uma brasileira, em um relacionamento a distância. "A gente começou a conversar, dei sorte que ela falava inglês, porque eu não sabia falar português. Depois de um tempo, ela aceitou viajar para lá. Ficou comigo por um tempo, até que a gente se casou no cartório do meu país", conta.

Sua vinda ao Brasil ocorreu após a aprovação do visto. O primeiro destino foi Lins, onde sua ex-esposa morava. Conhecedor de seis idiomas (inglês, russo, indiano, paquistanês, árabe e persa), Hamed precisou aprender o português. Apesar da experiência em descobrir novas línguas, ele teve algumas dificuldades na compreensão. "No Brasil, têm muitas gírias, que complicavam para eu entender, porque eram palavras que não tinham significado no inglês", comenta.

Outra dificuldade inicial de Hamed no País foi a alimentação. Como muçulmano, ele não come carne de porco, enquanto que a bovina e de aves necessitam de um preparo diferente. "Para a nossa religião, precisa ter uma oração para matar o animal e comer a carne dele. Então, por quase dois anos, só comi arroz, feijão e legumes", explica.

Por ser poliglota, trabalhou no auxílio a clientes estrangeiros em um hotel, ainda em Lins. Na sequência, com a vinda da ex-esposa para Bauru, recebeu o convite para ser pizzaiolo. Seu currículo foi considerado interessante, por conta de uma experiência pouco comum. "Desde criança, trabalhava com meu pai, que é cozinheiro profissional. Antigamente, ele era o cozinheiro oficial do presidente do meu país. Aí, aprendi sobre a culinária de lá e também de outros lugares", ressalta Hamed, que, atualmente, tem um food truck de pizzas na Praça do Avião.

Diferenças culturais

Seja pela religião, pelo modo de vida ou por especificidades locais, Hamed comenta que existem muitas diferenças entre a cultura e a sociedade do Afeganistão e as do Brasil. Porém, o que mais lhe chamou a atenção por aqui foram alguns feriados festivos. "Em um Réveillon, fui para Copacabana. Fiquei impressionado com a quantidade de gente, com os fogos de artifício. Eu já conhecia, pelos norte-americanos, as comemorações de Natal e Ano Novo deles, mas a maneira como vi no Brasil, me impressionou e gostei muito".

Já o Carnaval, ele tem até dificuldade em explicar. "Minha religião tem algumas datas importantes, como Ano Novo e o Ramadã. Depois do Ramadã, são três dias em que as lojas fecham e acontece uma confraternização em família. Nada parecido com o Carnaval. Eu nunca tinha visto algo semelhante", enaltece.

Por outro lado, há uma situação estrutural que o incomoda: a falta de mesquitas (templos islâmicos) na região. "No Estado, só encontrei em São Paulo, que não dá para ir sempre. Também já fui em mesquitas em Brasília e no Rio de Janeiro, todas iguais às do Afeganistão", observa Hamed. Ele, então, reza em sua casa, cinco vezes ao dia.

Saudade

Com uma história bélica marcante desde a Antiguidade, quando fazia parte do Império Persa, o Afeganistão convive neste século com mais conflitos. Contudo, segundo Hamed, a situação está mais tranquila do que a de alguns anos atrás. Sua última visita ao país aconteceu em 2015 e, desde então, a saudade da família aumenta. "Eu tenho muita vontade de voltar, por causa das pessoas que eu deixei por lá. Tenho bastante saudade de todo mundo, mas o custo da viagem é muito alto. Estou lutando para, um dia, conseguir vê-los novamente", complementa o afegão, que também sonha em reconquistar a ex-mulher.

 



Fonte: JC Net
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